terça-feira, 14 de maio de 2013

E já se passaram 3 anos...

Há três anos atrás, nesse exato momento (08:15am), eu começava a sentir a dor lancinante provocada pela ocitocina sintética. Apesar de hoje saber que essa intervenção é em sua maioria das vezes desnecessária, naquele momento eu me sentia bem... Estava num ambiente acolhedor, rodeada de pessoas que eu já conhecia, caía lá fora uma chuvinha fina, o dia estava bem cinza (do jeito que eu adoro) e eu me sentia acolhida.
Dali uma hora e alguns minutinhos, você meu filho, estaria nos meus braços, com seus cabelinhos negros e fartos... Apesar de eu ter planejado você, ao passo de saber exatamente o dia em que você foi concebido (18/08/2009), eu não estava preparada pra ser mãe de dois, profissional, mulher e atender a expectativas de todos (hoje, as duras penas aprendi que a expectativa do outro não é problema meu e caminho a cada dia pra enraizar essa verdade dentro de mim, mas há três anos atrás eu não tinha ideia sobre isso). É claro que tê-lo nos meus braços foi de grande alegria e muito amor, mas faltava alguma coisa e eu não conseguia explicar... É como quando você puxa o ar e ele não vem por inteiro, não sei, algo escapava...
Hoje tenho plena consciência de que eu estava tão envolvida com outras coisas menos importantes, preocupada em dar conta de tudo, desconectada de mim mesma que não consegui me conectar à você e a dificuldade de amamentar e falta de apoio de alguém que soubesse de fato do que estava falando, só intensificou essa falta de vínculo entre nós. Lembro de não conversar com você, de não ficar parada olhando você dormir e de fazer tudo mecanicamente, eu precisava de ajuda mas nem eu mesma me dava conta disso. Até que aos 6 meses você teve sua primeira pneumonia e sua primeira internação...
Nunca vou esquecer daquela imagem: fui trocar com seu pai, que tinha passado a noite com você, enquanto eu andava pelo corredor do Cândido Fontoura meu coração acelerava e eu não via a hora de te ver, o quarto onde você estava era o último do corredor e parecia que aquele corredor não tinha fim, quando passei pelo vidro da janela, vi você ali, com aquele pijaminha verde do hospital, sentadinho no berço brincando com os pesinhos, quando você levantou a cabeça e me viu abriu aquele sorriso largo e eu comecei a chorar, te abraçava e chorava, é como se naquele momento nós tivéssemos não só um breve reencontro, pois só tínhamos ficado um dia longe um do outro, mas parece que naquele momento eu comecei a vê-lo de fato, além do bebê chorão que você era, o medo de que algo de muito ruim acontecesse à você fez com que eu despertasse daquela falta de conexão entre mim mesma e entre nós!
Eu ainda teria um longo caminho a percorrer até que nos entendêssemos de fato, vieram mais 3 internações e com elas eu deixava tudo de lado pra me dedicar à você.
Hoje me questiono se essa não foi a maneira que seu corpo encontrou de me dizer que precisava de mim mais do que eu estava me doando, inclusive terminei de ler um livro onde fala da história de uma menina que desenvolveu tuberculose por conta do sentimento de rejeição que ela sentia e no livro a pessoa associa toda doença de pulmão com sentimento de rejeição, bem oportuno isso, não?
E então eu fui tomando contato com outras óticas sobre maternidade e a cada descoberta era como se eu tivesse levando um tapa na cara, a culpa se instalou de maneira avassaladora e eu precisei de ajuda profissional pra lidar com isso, resolvi fazer algo útil com essa culpa e a transformei em responsabilidade. Hoje posso te dizer meu filho: a mãe que eu era a 1 ano atrás terminantemente não é mesma de hoje!
Me reinventei, me reconstruí, não só como mãe, porque tudo isso me mudou como mulher, como ser humano, eu não só reinventei a maneira de maternar mas a maneira como eu me coloco diante do mundo.
Claro que o caminho é de mudanças sempre, e tem que ser assim! O dia que eu achar que sei tudo, que aprendi tudo ou que já mudei tudo que eu poderia mudar, com certeza estarei com sérios problemas!
Ainda erro pra caramba, com você, com sua irmã, comigo, com tudo, não tenho uma receita de bolo que me diz o que fazer, como fazer e qual hora fazer, inclusive há momentos que me sinto tão perdida e questiono se o que eu estou fazendo está certo, mas ultimamente procuro escutar a voz do meu coração, olho pra você e penso: não é possível que tanto amor vá dar errado!
Filho, tudo na vida nos convida a mudar, a se transformar, a se melhorar, mas nada na minha vida me fez olhar tão profundo pra dentro de mim quanto você! Nada no mundo me fez ter a disposição que eu tenho hoje pra aprender coisas novas, pra encarar o mundo pelo que eu acredito, para me reinventar de fato como você faz! Nossa relação não é tranquila e eu estaria mentindo se eu disse que não sinto um frio na barriga quando imagino você com 15 anos, você me mostra que eu, autoritária como sempre fui, não tenho controle de nada, principalmente sobre você! Posso ter um controle momentâneo por conta da condição de mãe de um menino de 3 anos, mas só! O que eu tenho pra oferecer além do meu amor que é algo do além, são meus exemplos e meu direcionamento, pra que quando você tiver com 15 você faça as melhores escolhas pra sua vida!
O que sinto nesse momento é GRATIDÃO, por ter a oportunidade de ser mãe de um espírito questionador e intenso como você! Que me ensina a todo momento, que me enternece com seu sorriso largo, que me acolhe com seu abraço carinhoso, que me faz rir com seus papos cabeça!
Com você eu aprendi a RESPIRAR meu filho, aprendi que tudo tem seu tempo, aprendi o que você quer me dizer nas entrelinhas, aprendi a observar você e a mim, com você eu me reconectei, comigo e contigo...
Feliz três anos, feliz vida que se inicia cheia de oportunidades, que possamos cumprir nossos propósitos firmados lá atrás, que possamos fazer dessa jornada uma jornada de aprendizado e evolução!